Tudo o que eu não fui, tu serás assim.

Entristece-me ver crianças exemplares. Têm as melhores notas, tocam piano, lêem antes do tempo e “já sabem falar de política e ciência”. O adestramento começa cada vez mais cedo. Os pais, sedentos de prestígio social, fabricam bonecos à imagem dos seus arrependimentos. Os filhos têm que ser os mais inteligentes, famosos ou bonitos, porque era o que eles queriam ser mas não conseguiram. As crianças, usadas como propriedade e subserviência garantidas, não só lhes dão a sensação de eternidade, como lhes satisfazem as necessidades de amor, ego e violência. Preciso de atenção? O filho dá. Preciso de prestígio? O filho dá. Preciso de exercer autoridade em alguém? Mando no meu filho. E a esta degradação intelectual, roubo da espontaneidade, e da vontade própria, chamam educação. Seja por coacção, seja por manipulação, os adultos procuram que os filhos sejam extensões obedientes e melhoradas de si próprios. Só não sei se eles se apercebem que, assim, não só criam seres frustrados e deprimidos, como estão a reiniciar o ciclo de violência social do qual foram vítimas toda a vida.

A liberdade deles.

Tenho uns amigos do governo que falam muito em liberdade política. Quando me vêm com essa conversa, pergunto-lhes: Liberdade de quem? Para fazer o quê? E chego sempre à mesma conclusão. A liberdade deles decidirem a que leis devo sujeitar-me. É que, quanto mais exercem a liberdade deles, menos vejo a minha. No Estado "livre", onde somos obrigados a fazer milhares de coisas, podemos optar entre as alternativas que o poder nos dá, que são nenhumas.