Todos os dias me perguntam quando é que escrevo um livro. E eu respondo sempre: quando tiver tempo, e se me apetecer. Com o trabalho, a casa e a comida para fazer, sobra-me quase nada. Para esse problema, tenho uma mezinha. Sempre que começo a angustiar pela falta de tempo para escrever, abro As imagens de pensamento, do Walter Benjamin, na parte que diz:
Uma eficácia literária significativa só pode nascer de uma rigorosa alternância entre acção e escrita. Terá de cultivar e aperfeiçoar, no panfleto, na brochura, no artigo de jornal, no cartaz, aquelas formas despretensiosas que se ajustam melhor à sua influência sobre comunidades activas do que o ambicioso gesto universal do livro. Só esta linguagem imediata se mostra capaz de responder activamente às solicitações do momento. As opiniões estão para o gigantesco aparelho da vida social como o óleo para as máquinas: ninguém se aproxima de uma turbina e lhe verte óleo para cima. O que se faz é injectar algumas gotas em rebites e juntas escondidos que têm de se conhecer bem.
Mal acabo de ler isto, sinto logo que não ter tempo é uma grande vantagem. É que, se não fosse a falta dele, punha-me a escrever livros infinitos. E, afinal de contas, quem é que tem tempo para os ler?