A tal.

Em O Banquete, de Platão, Sócrates diz que o “erro surge por se considerar que o amor é aquilo que se ama e não aquilo que ama”.

Não cometer o erro significará, então, dizermos que o amor tem mais a ver com a forma como amamos do que com a pessoa que amamos.

Deve ser por isso que Barthes, nos seus Fragmentos, diz que “é o amor que o sujeito ama, não o objecto”.

Se não é a pessoa que amamos mas o nosso estado de enamoramento, porque razão desejo aquela pessoa e não outra?

Amamos quem queríamos ser, quem nos é útil ou quem nos satisfaz?

Max Stirner responderia:

“O amor do egoísta brota do seu interesse pessoal, corre para o leito do interesse pessoal e desagua de novo no interesse pessoal.” Em O Único e a sua propriedade.

O empreendedor e a personalidade autoritária.

Nada de novo nesta notícia de ontem. 25 portugueses mais ricos reúnem 8,5% da riqueza nacional. Os três mais ricos são Américo Amorim, Alexandre Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo Isto faz-me lembrar um texto que escrevi sobre uma entrevista que ASS deu ao Público.


Nela, Alexandre Soares dos Santos tende a idealizar o sistema alemão. “Dou valor à união nacional — “Temos que recuperar a Alemanha. Em Portugal, [apesar das] grandes dificuldades, não conseguimos fazer um governo de união nacional em que sindicatos, empresários, partidos políticos tenham um programa em que valha a pena pensar: “Vamos fazer isto.”, em detrimento do sistema português, que, segundo ele, não está suficientemente unido para “aumentar a produção”. A mensagem subliminar que Soares dos Santos passa é que, independentemente das dificuldades que os cidadãos e cidadãs portuguesas sofram, o importante é o aumento da produção, deixando por explicar para que efectivamente serve o resultado dessa produção. A “união nacional” “entre partidos, pessoas com ideologias ou credos diferentes”, servirá essa ideia abstracta de “bem comum”, que será mais um silenciamento das minorias desfavorecidas, em favor de uma abstracção que, no limite, poderia afirmar algo como “temos que passar fome para alcançarmos o bem comum”.

“Temos de fazer um esforço de aumentar a produção. Que precisamos de investimento, todos sabemos. Mas onde é que está o dinheiro? Quem é que nos empresta? Ninguém. Estourámo-lo.” Nesta frase Soares dos Santos responsabiliza um conjunto não identificável de pessoas irresponsáveis, que gastaram mais do que deviam. Mas, tal como podemos verificar no estudo de Adorno sobre “A personalidade autoritária”, o objecto de representações preconceituosas (que, neste caso, são os gastadores e as pessoas que não produzem) pode ser qualquer um, já que ele cumpre uma função psicológica na economia psíquica do sujeito preconceituoso, pelo que as particularidades do grupo alvo de preconceito são menos importantes do que as do sujeito preconceituoso.

Tal como os pastores evangélicos alvo de estudo pela escola de Frankfurt, Soares dos Santos utiliza as mesmas técnicas da psicologia que incluíam, em primeiro lugar, representar o líder como um pequeno grande homem. Apesar de pertencer a uma família que “vivia bem”, cujo pai “vivia muito bem” e o “avô tinha dinheiro”, tendo estudado num colégio, tido como colega de carteira Francisco Sá Carneiro, que simboliza o acesso privilegiado a uma rede de contactos de elite, e aprendido inglês e alemão no estrangeiro, Alexandre expõe visceralmente as dificuldades que passou “Vim a Portugal casar-me, dois dias depois parti. A minha mulher saiu de uma moradia para um quarto. Eu pagava para tomar banho todos os dias. (…) Vivia num quarto de uma casa de uma senhora. Nunca tive uma conversa com ela. Era bom dia, boa tarde, acabou.”, demonstrando que, apesar de ser um pequeno homem igual a tantos outros portugueses, é um grande homem porque conseguiu ultrapassar todas essas dificuldades e tornar-se no mais rico de Portugal. Ou, como afirma nesta entrevista, sobre a sua ambição: “Eu não quero ser mais um. Eu quero ser um.” Em segundo lugar, tal como no discurso autoritário dos fascismos, vem a representação dos alvos das suas enunciações como inimigos ocultados e protegidos pela democracia. Neste caso, o alvo são as pessoas que não prosseguem o interesse capitalista de “aumento de produção”. Esse é o grande objectivo e todos aqueles que não o seguem são alvos a abater, especialmente porque são protegidos pelas instituições democráticas. Em terceiro lugar, a lógica de perseguição das pessoas que beneficiam de apoios sociais, as associações que reivindicam os direitos, os indisciplinados , entre outros. Por último, nomear os inimigos: a política e os sindicatos: “defendo que o empresário não tem de se meter em política. (…) não gosto de sindicatos. (…) que antes deveriam ser “comissões de trabalhadores”, que colaborassem com o sistema idealizado por Alexandre.

Um dos maiores perigos do discurso do empreendedorismo é a afirmação que todos e todas são iguais perante a lei e que, por isso, todos e todas têm a oportunidade de “vencer na vida”, nas palavras de Alexandre Soares dos Santos, se formos esforçados e disciplinados. A ideia de que qualquer pessoa, independentemente da sua classe social, género, etnia ou outros constrangimentos, pode tornar-se no “homem mais rico de Portugal” é injusta e extremamente perniciosa. Essa “igualdade” de condições não é mais do que uma falácia por parte de quem deseja perpetuar os seus privilégios, ignorando a existência de desigualdades sociais.

Uma coisa parece evidente: as tendências anti-democráticas e fascizantes estão presentes no discurso capitalista. As falsas justificações racionais para atitudes e discursos irracionais, a idealização do líder, o pequeno grande homem e a identificação dos inimigos do povo, são elementos psicológicos comuns ao costume fascista. Mas não só. Tal como na acção política de ontem, as grandes corporações económicas e os seus donos influenciam, directamente, a vida dos cidadãos, e exercem uma constante pressão para dominar ou fazer desaparecer algumas das mais importantes estruturas que os protegem.

Apanho a segunda onda.


A ideia da terceira vaga, de utilizar a “feminilidade” para manipular os homens, parece-se demasiado com a serpente que seduz as vítimas masculinas. Sou mulher branca, ocidental, vivo numa sociedade capitalista, etc., e, naturalmente, incorporo as características desses sistemas. Calço saltos altos por causa disso. Sinto-me mais sexy de saltos altos porque vivo aqui, porque incorporei a ideia híper-sexualizada-masculino-hegemónica do que é ser sexy. Se vivesse numa tribo, pintava o corpo de amarelo. Se o faço, inconscientemente, para manipular os homens, não sei. Acho que é mais um jogo de sedução que incorpora as características da dominação do que algo premeditado. Não sei, não sei.

Mas se fosse para escolher entre a ideia de auto-empoderamento da Beatrix, a apologia da mulher autónoma e forte que assume que não precisa de um homem para nada, ainda que não negue, e tenha prazer em, claro, relacionar-se com ele, e a imagem da Fabienne, sensível, com ar frágil, mas que não precisa de impor-se para fazer o que lhe apetece, fá-lo à revelia da vontade do homem, ignorando-o, eu escolheria a Beatrix.

Outra coisa do mesmo género.


"Pero que lo terminam vendendo solo esteriotipos."

We try to make sense of it.


“Phenomena – It’s all around us.

Phenomena – It’s everywhere.”

Uma coisa deste género.


“Mas tais papéis de género são, segundo Butler, determinados pela sociedade. Desde o momento em que o médico declara “é uma menina”, é esperado que ajamos em conformidade com os nossos géneros.”

Isto só serve para compor a geração futura?

Se, como afirma Schopenhauer, o amor é uma invenção bizarra que tem por objectivo sentimentalizar o instinto sexual, a que se deve a imensidão do desgosto amoroso?

A lógica política.

Se a lógica do mercado se funda na suposta racionalidade do ser humano, então, podemos afirmar que o amor é a sua transgressão máxima.

Talvez seja por isso que o capitalismo tenha reduzido o amor ao sexo e a igreja o tenha disciplinado com o casamento.

Não se consegue controlar apaixonados, bêbados e drogados.

Ninguém é tão irracional como quando ama.

A lógica do caos.


                            Banda sonora

Não há almoços grátis.

Lucrécio dizia que devemos entregar-nos às relações sexuais desenfreadas para evitarmos os perigos de uma paixão única. O problema é que ao fugir da dependência emocional, fica-se com uma dependência sexual incontrolável.

Agora Deus é a saúde ou Só dão às pernas.

Estou a adorar esta onda dos runnings e dos spinnings à noite. Eu sei que toda a gente precisa de um sentido de vida mas encontrá-lo a correr imenso e a vestir roupas néon nas horas livres é muito louco. E nem se fala quando vêm com as ideias higienistas e eugénicas: “Mas tu não fazes nada? Não te mexes?” ou “Eu sou superior a ti porque sou limpinho, magrinho e super dinâmico.” O problema é quando o dinamismo é só nas pernas.

“Desse isolamento doentio, do deserto desses anos de experimento, é ainda longo o caminho até a enorme e transbordante certeza e saúde, que não pode dispensar a própria doença como meio e anzol para o conhecimento, até a madura liberdade do espírito, que é também auto-domínio e disciplina do coração e permite o acesso a modos de pensar numerosos e contrários — até a amplidão e refinamento interior que vem da abundância […] até o excesso de forças plásticas, curativas, reconstrutoras e restauradoras, que é precisamente a marca da grande saúde.” Nietzsche, Humano Demasiado Humano, Prólogo/4.

Stranded.

 Malèna, Giuseppe Tornatore.

                                                                      Banda sonora

Caminhada.

Caminhada, Thoreau.

                                                                              

E lucevan le stelle.

    Fragmentos de um discurso amoroso, Roland Barthes.

                                                                    Banda sonora

Monster.

Filósofos e o amor, Aude Lancelin & Marie Lemonnier.

                                                                      Banda sonora