Quando o capitalismo "flirta" com o fascismo.*

Continuo a rir-me muito com o facto da Catarina Portas, de cognome "a empreendedora das andorinhas de louça e cabazes de 100€ com uma garrafa de vinho do Porto corrente, dois sabonetes e uma lata de atum”, proprietária das lojas com o conceito mais neo-fascista que conheço - vender produtos "artesanais" portugueses (a maioria é industrial mas com design retro, pelo que de artesanais devem ser, talvez, as embalagens), em formato “gourmet”, e a preços exorbitantes (que não são para pagar a mão-de-obra que os produz mas a ela e aos proprietários das grandes marcas que os fabricam), numa espécie de disneylândia saudosista do Portugal antigo - veio para uma revista cor-de-rosa dizer que, em certo sentido, é um “bocadinho” anarquista. “Estes produtos são nossos. Estes produtos somos nós.”, diz o manifesto da loja da senhora. Alguém que lhe explique que ninguém pertence ao "nós" dela, a não ser duas ou três marcas de loiça, lápis de grafite e de sabonetes cheios de perfume industrial que a Oprah adora oferecer no Natal. Tudo impossível de ser comprado por um português de ordenado médio. Mas com muito estilo, tã?

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Na fábrica de comida.

Não havia alternativa. Para sobreviver, teria que trabalhar nos tempos livres que lhe restavam. Todos os dias, apenas parava para comer e dormir, o que não conseguia fazer pela falta de sentido de vida. A ela, nem emprego lhe davam. Diziam que eram trabalhos muito exigentes para mulheres.

No dia seguinte, vi isto afixado:

Aviso todas as pessoas para se retirarem da fábrica até às 9h55, hora exacta em que será bombardeada. O objectivo é alertar para a submissão do amor ao capitalismo, pelo que apenas pretendemos explodir com as instalações. O anarquista continuará no anonimato. Apenas se sabe que este é um acto feminista.

Sobreviveram todos. Agora, já não é a fábrica que faz a comida. Somos nós que plantamos, transformamos, cozinhamos e comemos. Todos têm tempo e conseguem dormir. E, diz-se por aí, o nosso ex-chefe, que estava impotente, faz amor muitas vezes.