Tive algumas dificuldades, mas graças a Deus tudo acabou bem.*

É uma força interior que me aproxima destas causas. O que me move é o sofrimento de pessoas que estão a escassos quilómetros de nós, diz a Inês Patrocínio*. Fiquei emocionada e com algumas dúvidas.

O que quer ela dizer com “escassos quilómetros”?

Há pobres em Portugal?

Não é glamoroso tirar fotos a "ajudar" os pobres portugueses?

O que é que a Inês Patrocínio foi realmente fazer a África?

Quem foi o africano que ficou melhor depois da visita da Inês Patrocínio?

Quantos rebuçados deu a Inês Patrocínio às crianças africanas?

Será que já passou pela cabeça da Inês Patrocínio que os que os ocidentais fazem em África ou é colonização ou é turismo de pobreza?

Saberá, a Inês Patrocínio, o significado da palavra paternalismo?

Para que é que se tira uma fotografia destas?


Talvez a Barbie Savior saiba.


A pequena biografia no perfil já conta metade da história apenas com palavras-chave: "Jesus. Aventura. Um amor. Bebés. Beleza. Não qualificada. Convocada. Vinte anos de idade. Não é sobre mim... mas até é". Neste perfil de Instagram, vemos uma Barbie em África a fazer "selfies" entre ruínas, a aprender a dançar "como os nativos", a mostrar a sua nova tatuagem, feita uma semana após aterrar: o contorno do continente é acompanhado pelas palavras "Te Amo", que "significam 'amor' em africano". Criada por duas jovens de 20 anos, a conta Barbie Savior parodia, com muito humor, todos aqueles que decidem viajar para um país em desenvolvimento como voluntário, mas que, em vez de ajudar, tornam toda a experiência num acontecimento sobre si próprios. No fim de contas, satiriza o "white savior complex", termo que descreve os ocidentais brancos que se precipitam para países mais pobres para "salvar" pessoas, mas, muitas vezes, é apenas um exercício de auto-congratulação com um certo resquício de colonialismo à mistura. In P3

Classes.

O Enredo Conjugal, Jeffrey Eugenides.

Biografia.

Ontem, passei a noite a ler os diários do Kafka. Queixa-se da necessidade de manter o trabalho no escritório para “ganhar o pão” e da falta de tempo para escrever. Vive em exaustão por manter uma vida dupla, a de agente na companhia de seguros e a de escritor. Pergunta-se constantemente pelas vantagens e desvantagens do celibato e do casamento e de que forma isso influenciaria a sua escrita. Há quem diga, pelas suas cartas, que era torturado pelo desejo sexual. Fala do pai, da relação sinuosa que tinha com ele, e das censuras que lhe fazia por não “se preocupar com a fábrica” da família. Sonha com o momento em que se livraria do escritório e poderia finalmente dedicar-se a escrever. “Não consigo prever uma mudança mais grandiosa do que esta, já de si tão terrivelmente improvável.” Deita-se cedo para escrever de manhã e vai já exausto para o trabalho. Nos dias em que não escreve, sente que o trabalho corre melhor, mas nada daquilo lhe faz sentido. Não lhe doía o corpo mas a alma, digo eu. Tem momentos em que pensa : “não teria a capacidade de aproveitar todo o tempo para a literatura”, para logo afirmar: “todos os dias deveria ser-me apontada ao menos uma linha, como se aponta os telescópios aos cometas”. A mim, também. Ou uma linha por semana, um livro de oito em oito anos, como o Cossery, que conseguiu livrar-se de “tudo isso que desgraçadamente dá felicidade aos imbecis”, e viver, “sempre feliz”, com quase nada.

1911.

Kafka, in Diários.

Only anarchists are pretty.

“I arrived last night at the University of Arizona for my event with Edward Snowden and Noam Chomsky. Chomsky arrived shortly after I did and, after I greeted him, the following dialogue ensued:

Chomsky: You know, there’s this interesting essay by Albert Camus, written during his first visit to the United States, in which he described his surprise at what he regarded as the poor clothing taste of Americans, particularly men’s choices of ties.

Me (slightly confused): Are you sharing that anecdote because you dislike my tie?

Chomsky: Yes."