Para finalizar esta carta, aqui te deixo uma máxima que li hoje, e que também ela foi colhida num jardim alheio: “uma verdadeira riqueza é a pobreza conforme a lei natural.” (Epicuro) Sabes quais os limites que a lei natural nos impõe? Não passar fome, nem sede, nem dor. Para evitar a fome e a sede não é necessário frequentar a casa dos grandes senhores, nem suportar o seu ar carrancudo, ou a sua ofensiva bondade (…).
Sermos donos de nós mesmos é um bem inestimável!
À custa de muito esforço poderemos ter uma grande propriedade: antigamente, contudo, éramos proprietários de tudo! Sem cultura, a própria terra era mais fértil, e bastava para as necessidades de gente que não a saqueava.
Esses homens protegiam-se do sol apenas na sombra densa das florestas, viviam sob humildes tectos de colmo como único abrigo contra as inclemências do inverno, mas podiam ver as suas noites passarem sem angústia. Nós, no meio da nossa púrpura, dormimos agitados, sujeitos ao violento aguilhão da ansiedade; eles, dormindo na terra dura, que sono tranquilo gozavam!
O filósofo que, vendo um garoto a beber água pelas mãos em concha, partiu no mesmo instante o copo que tirara da sacola, e a si próprio se repreendeu, dizendo; “Oh! Como sou estúpido em andar carregado de objectos inúteis!”
A sabedoria põe a riqueza à tua mão: ao mostrar que é supérflua, está como que a oferecer-ta.
Séneca, em Cartas a Lucílio, ano 65 d.c., Roma.