Quando amamos, parte de nós morre. O amor transforma-nos porque alienamos alguma da nossa natureza e tornamo-nos portadores de parte da natureza do outro. Não é a apropriação do outro mas a transformação de nós mesmos, resultante da antinomia.
A entrada no outro coloca-nos no desconhecido.
E é no desconhecido que nos vulnerabilizamos.
Por isso, o amor não pode ser terno, doce, tranquilo e todos os nomes que a romantização e a domesticação o querem chamar.
O sujeito narcísico da sociedade actual, ao lutar contra todos os sentimentos negativos, reduziu o amor a um objecto de consumo.
A pornografia é um exemplo disso. Estamos cada vez mais nus e nunca houve tão pouco erotismo. O rosto pornográfico não tem expressão nem mistério. Um corpo nu é um corpo nu. É a sexualidade sem mais. Aí, somos todos iguais. No que nos difere é que nasce o erotismo.
No inferno do igual, contra a violência do consenso, vestir, pensar, ritualizar é transformar.
Frente à coacção da conformidade higienista, amar é transgredir.