Tirem-me deste aquário.
Como escrevi aqui, um dos maiores problemas das redes sociais é privatizarem os tempos livres. Isto tem como consequência a impossibilidade de criação de espaços e discursos próprios, longe das empresas que as criam e as gerem. É que, não nos esqueçamos, apesar de não os vermos, os gestores do Google e do Facebook verificam diariamente como nos comportamos e criam mecanismos virtuais para nos induzirem aos comportamentos que mais lhe interessam, e os mais lucrativos para as empresas que investem neles, que compram os nossos dados ou espaços publicitários. Ou seja, sempre que estamos ligados a um smartphone, a um tablet ou a um computador, o nosso comportamento está a ser manipulado por empresas. E esta mediação tem características e consequências que subvertem por completo a consciência pública. O facto dos motores de busca e das redes sociais serem personalizados (eles escolhem o que vemos e fazem-no com base no que procuramos e gostamos no passado), implica que estejamos a passear num espaço do consenso, onde nunca temos a necessidade de contactar com o diferente, com a alteridade. Só nos mostram o que queremos ver, o que é igual a nós. É por este motivo que pensar que as redes sociais são uma forma de incremento à liberdade de expressão é o mesmo que se dizer que quanto mais o cão ladra mais liberdade ele está a exprimir. Todos falam muito, ninguém se ouve. E quando alguém diz alguma coisa que não interessa, ou é ameaçadora para estas empresas, elas tratam de as silenciar, utilizando algoritmos que, por exemplo, fazem com que publicações com determinadas palavras circulem ou apareçam menos. Ou, no Google, nem sequer aparecendo. Procuras isto, mas sou eu que escolho o que aparece e, consequentemente, onde vais clicar. Por isso é que isto tudo me parece um aquário. As paredes de vidro, que são transparentes, não se vêm. Ou seja, a limitação, feita pela mediação, está lá, mas nós continuamos a nadar, ignorando a sua existência e limitando por completo os nossos horizontes. Haja mar.