Olha que ideia fantabulástica tiveram agora: avaliar o desempenho dos trabalhadores no fim de cada telefonema (telecomunicações), visita (supermercados), prestação de serviços públicos (Centro de Emprego) ou privados (Uber). Dizem para escolhermos as opções entre zero e três, em que zero é nada satisfeito e três muito satisfeito, por exemplo. No meio há-de estar o mais ou menos satisfeito. Ou pedem-nos para seleccionarmos umas caras de uns bonecos,
smiles, nas máquinas de pagamento, após a prestação do serviço. Se tivermos gostado do atendimento, seleccionamos as caras sorridentes. Se quisermos demonstrar a nossa insatisfação, clicamos nas caras muito tristes.
Isto é muito engraçado e até andam para aí umas pessoas muito contentes e a sentirem-se muito poderosas ou por poderem sancionar outras - Vê-lá-se-te-portas-bem-ou-dou-te-má-avaliação-e-levas-tau-tau-do-chefe – ou por impedirem os trabalhadores de boicotarem este sistema – Olha-que-eu-sou-muito-esperto-e-já-vi-que-andas-a-clicar-nos-bonecos-super-sorridentes-quando-as-pessoas-se-esquecem-de-te-avaliar. São todos muito espertos. Só ainda não perceberam qual é o objectivo desta geringonça.
Sempre que clicamos no boneco triste ou no boneco sorridente, estamos a avaliar o trabalhador e não a empresa. Assim, culpa-se o trabalhador pelo mau serviço e não a empresa que lhes paga mal, que tem más condições de trabalho, de venda, maus produtos, estruturas deficientes. As decisões são tomadas pelas chefias mas a avaliação e as sanções dirigem-se sempre ao trabalhador. Para além de pô-los a competir entre si, em benefício do empregador. Imagine-se que a empresa decide aumentar os preços. Como não é possível avaliar a empresa, apenas o trabalhador, quem acham que vai levar com o cartão vermelho?
E quando forem vocês? Vão fazer sorrisinhos de plástico, mesmo quando queriam arder com tudo, incluindo chefes e clientes, porque têm que pagar as contas, não é? E que tal deixarem de ser palermas e permitirem que os trabalhadores tenham só bonecos sorridentes, para, desta forma, impedirem os chefes de os culparem das decisões que só estes tomam?
Ou isso ou ponham-se a vigiar e a penalizar uns aos outros, enquanto nos usam como escudos humanos.