Século XX.
O poder é normativo. Obriga-nos a cumprir regras. O objectivo é disciplinar o sujeito, torná-lo dócil e obediente. A imposição é visível porque implica coacções. “Se não cumprires, bato-te.”, “Se não cumprires, vais preso.”, por exemplo. Ainda que tenha consequências psicológicas, o poder disciplinar obtém um domínio mais físico do que psicológico. Como o sujeito consegue identificar o impositor, o poder tem um acesso limitado à psique.
Século XXI.
O poder é psicológico. Através dos dados que oferecemos ao Estado e às empresas, através do Google e do Facebook, por exemplo, o poder consegue construir não só o mapa psicológico de um determinado indivíduo, como também criar um mapa psicológico da “mente colectiva”. Utilizando os nossos dados, quem detém o poder descobre os nossos anseios e desejos ocultos e apodera-se desse conhecimento para controlar e vender. Agora, já não é necessário obrigar-nos a cumprir regras, basta seduzir-nos, penetrando nas camadas mais profundas da psique. Para nos dominar, continuam a utilizar técnicas disciplinares, mas sobretudo técnicas de manipulação. Seduzem-nos para nos tornar dependentes. A sedução é feita através da oferta de recompensas instantâneas. O “gosto”, do Facebook, é um exemplo disso. Satisfaz-nos ao ponto de, para o obtermos, oferecermos cada vez mais informação sobre nós. Quanto mais me exponho, mais gostos tenho. Não há “não gosto”. A satisfação é momentânea. E a recompensa nunca é negativa.