Habitualmente, o primeiro passo para estudar a interacção entre os jornalistas e os políticos é analisar as relações entrelaçadas entre os média e a política. Mas talvez seja mais interessante começarmos a dar ênfase a factores que não seguem a tradição política ou a abordagem económicas. Vários estudos encontraram grandes diferenças entre os jornalistas do norte e do sul da Europa, por exemplo. Os do sul são habitualmente mais cínicos do que os jornalistas do norte. Outros apontam a pressão política como um dos principais factores para o aumento do cinismo no jornalismo político, o que parece fazer mais sentido. Assim, o jornalista estará desacreditado da política na razão directa da pressão que os políticos exercem sobre o seu trabalho. Para além disso, será interessante pensarmos nas potenciais consequências negativas da profissionalização da sua relação com os jornalistas políticos, como com os spin doctors, por exemplo, e nas disparidades culturais e demográficas, que podem influenciar a forma como os jornalistas desempenham as suas funções. Por outro lado, podemos ainda pensar no declínio do consumo de notícias deste foro como produto de uma descrença no sistema democrático. Não será o declínio do jornalismo político um sintoma do falhanço da democracia na supressão das necessidades básicas dos cidadãos? Se eu acho que os políticos não resolvem os meus problemas, por que haverei de ler notícias sobre o que eles andam a fazer?
Urge, pois, compreender o jornalismo político de uma perspectiva holística, cujos comportamentos brotam de um cruzamento de factores que não se restringem apenas às esferas políticas e mediáticas, que é o mesmo que dizer que devemos desconfiar dos que acusam os jornalistas de serem a razão do aumento do cinismo no exercício da sua profissão, e da consequente demissão democrática dos cidadãos. Para compreender o declínio do jornalismo político, talvez seja mais interessante estudar a forma como as populações vivem, e a estrutura da participação política delas, do que andar a apanhar o mexilhão.