Estava declarada a guerra aos mendigos da cidade. As instruções eram claras: os polícias deviam expulsá-los das ruas prestigiadas.
Um polícia viu, ao longe, um mendigo deitado no chão. Ordenou-lhe que saísse dali. O mendigo não reagiu. Gritou-lhe. O mendigo não reagiu. Pontapeou-o. O mendigo não reagiu.
As pessoas começaram a juntar-se à volta dos dois.
O polícia, aflito, pensou: “Não pode estar morto. Posso fazer tudo menos matá-lo. É o meu fim.”
Já em desespero, levantou o cobertor do mendigo para ver se estava vivo.
Era um mendigo de plástico, colocado por uma célula de mendigos desobedientes.
Nunca mais a cidade parou de rir do polícia.
(Sobre o primeiro capítulo d´A violência e o escárnio, de Albert Cossery)