Hierarquia vs transversalidade.
Se há coisa indigna neste mundo é achar que se pode falar em nome dos outros. Os médicos acham que podem falar pelos doentes, os que estudaram mais pelos que estudaram menos, os homens pelas mulheres, os professores pelos alunos, ou os empresários pelos trabalhadores. O que interessa é que cada um fale de si, ou enquanto membro do grupo a que pertence, e dos problemas políticos, financeiros, jurídicos, ou outros, que o afectam. Por isso é que eu acho muito estranho que um homem que nunca trabalhou por conta de outrem considere que pode falar por mim, que os académicos possam falar em nome do punk, que a classe média possa falar em nome dos pobres, ou alguém que nunca escreveu pelos escritores. Para que isto faça algum sentido, num hospital, por exemplo, terá que haver o grupo dos médicos, o dos enfermeiros, os trabalhadores da limpeza, financeiros, etc. e o grupo dos doentes. E não uma administração, ou o grupo mais privilegiado, a falar em nome de todos.