O burlesco e o sublime.

Há uma coisa que me tem intrigado ultimamente: por que é que toda a gente quer impor-me sentimentos? Querem que eu sinta temor a deus, querem que eu sinta temor dos meus pais, dos meus avós, do meu chefe, do gerente do banco, de toda a gente em geral, e delas em particular. E chamam a isto respeito. "Tens de respeitar isto, tens de respeitar aquilo." E eu fico sem perceber o que eles realmente querem. Mas parece-me que andam à esmolinha das venerações. E se eu sentisse o que me apetecesse dos meus pais, dos meus avós, do meu chefe e do homem que trata das minhas contas no banco? Porque insistem que devo sentir o que elas desejam que eu sinta e não o que eu sinto efectivamente? É que é um bocado desgastante ter que fazer uma expressão de extrema seriedade sempre que surge o burlesco na vida. Tudo é sagrado! A economia é sagrada, os mercados são sagrados, a ciência é sagrada, os princípios gerais são sagrados. E ao sagrado o que é que se exige? Submissão e devoção. O problema é que, na maior parte das vezes, é, realmente, um caso sério, mas de idiotice. Basta olhar para o lado para perceber que o século XXI, tão doente mentalmente, está cheio de gente que levou tudo demasiado a sério.