Sobre os despedimentos dos jornalistas do Sol e do I.

Anda para aí muita gente a dizer que os jornais Sol e I vão despedir uma catrefada de jornalistas porque as pessoas não compram jornais, porque as pessoas não pagam pelas notícias digitais, porque as pessoas se demitiram da sua função democrática, porque as pessoas não querem saber das coisas importantes e porque o que vende é futebol e fado. Mas a questão não é as pessoas não pagarem, mas porque razão não estão dispostas a fazê-lo. O problema é que as notícias que os jornais de hoje produzem não interessam a ninguém. Se os directores dos jornais obrigam os jornalistas a escrever sobre o que faz 1% da população, constituído pelos políticos e pelas pessoas que têm poder financeiro ou outro, como é que esperam que os restantes 99% comprem estas notícias que não lhes dizem nada? Se eu acho que os políticos não resolvem os meus problemas, por que haverei de ler notícias sobre o que eles andam a fazer? Por que é que os jornais portugueses não falam sobre a vida das pessoas? E não são as notícias dos lifestyles, os acidentes de carro, e as comidas gourmet, que, como se compreende, ainda vendem. É que as pessoas continuam a vestir-se, a terem que transportar-se e a comer. Mas a cultura que estes jornais falam é a “grande cultura”, a política é “a grande política”, as empresas são “as grandes empresas”. Se é para essa gente que falam, esperem que seja essa gente a comprar-vos os jornais, e não a restante população que nunca aparece em lado nenhum e cujos verdadeiros problemas são silenciados. O que é realmente preocupante é que estes jornalistas ficaram desempregados porque esta gente, que escolhe sobre o que eles podem falar, e que destaques podem dar, não sabe o que anda a fazer. Façam jornais locais, jornais temáticos, jornais de especialidade, o que vocês quiserem. Falem para e sobre as pessoas que querem que vos compre os jornais. Tudo, menos isto, que, como se tem verificado, não está a correr lá muito bem.