Sem estrutura.

Quando leio Nietzsche, Foucault, Deleuze ou Derrida, fico com um sentimento duplo de raiva e satisfação. Se, por um lado, fico contente por ver o que fizeram com as ideias do Stirner, por outro, entristece-me que nunca o referenciem dignamente. Sempre se tratou de não ser leal a ideias, não a pessoas.

Nobreza postiça.

Caros apologistas do requinte mórbido, muito arreliados com a popularidade, comprimento e grossura dos textos dos outros, criadores de ricas hierarquias intelectuais, que odeiam a sátira, essa técnica desprezível dos que não tomam sedativos face à opressão, não sei se vos agradeça o riso ou vos admoeste (fui-buscar-esta-palavra-porque-queria-dizer-repreender-de-uma-forma-benevolente-mas-sem-ritmo-literário) pelo enfado que os vossos textos me provocam. Na indecisão, deixo-vos um poema efeito-oxigénio-total-limpa-cérebros-rococó, para lerem enquanto escolhem palavras no dicionário ou fazem poses para as fotografias.

"Porque o povo diz verdades,
Tremem de medo os tiranos,
Pressentindo a derrocada
Da grande prisão sem grades
Onde há já milhares de anos
A razão vive enjaulada.

Vem perto o fim do capricho
Dessa nobreza postiça,
Irmã gémea da preguiça,
Mais asquerosa que o lixo.

Já o escravo se convence
A lutar por sua prol
Já sabe que lhe pertence
No mundo um lugar ao sol.

Do céu não se quer lembrar,
Já não se deixa roubar,
Por medo ao tal satanás,
Já não adora bonecos
Que, se os fazem em canecos,
Nem dão estrume capaz.

Mostra-lhe o saber moderno
Que levou a vida inteira
Preso àquela ratoeira
Que há entre o céu e o inferno.

António Aleixo, em "Este Livro que Vos Deixo..."