Viciados em evidências.

O trânsito está parado na A1 e tenho uma fila gigantesca à minha frente. A rádio não pára de falar das novas descobertas científicas. É o café que agora faz bem e depois já faz mal, é dormir que hoje é bom para a saúde mas a descoberta de ontem disse que não, é a cerveja que diminui a probabilidade das mulheres virem a ter acidentes cardiovasculares cerebrais, mas aos homens não faz diferença. Há descobertas científicas para o menino e para a menina, para todos gostos e feitios. Provar que os homens brancos europeus fazem palavras cruzadas mais rapidamente do que as mulheres africanas é uma evidência que se pode provar cientificamente. O problema é que isso é o mesmo que provar que há fome em África. O mais perigoso desta suposta legitimação científica de tudo e mais alguma coisa é confundir mais do que permitir a compreensão, o que é muito útil para se vender produtos e aplicar-se medidas políticas duvidosas. Por isso é que as estatísticas, as evidências, os dados, por si, sem pensamento, sem teoria, sem narrativa, não só não servem para nada como podem ser altamente perniciosos. Duvide-se de tudo. Mesmo que a dúvida não possa ser comprovada cientificamente.