Fronteiras imperceptíveis.

Fazer um vídeo ou um filme, escrever um texto, desenhar, pintar, esculpir ou compor uma música para mim, é muito diferente de o fazer para uma empresa. Na primeira, apenas estou limitada pelas marcas deixadas no meu pensamento. Na segunda, estou limitada, não só pelas marcas do pensamento de quem me paga, como também, e sobretudo, pelo objectivo da criação, o lucro.
Ainda que separados por uma fronteira imperceptível, os gestos, o pensamento e a criação de um realizador, ilustrador, escritor ou músico nas empresas culturais ou nos seus espaços pessoais são radicalmente diferentes.
Por isto, às vezes, fico muito concentrada a olhar para as pessoas que criam arte na rua. E tenho visto uma coisa estranha: pessoas que não têm ninguém a pagar-lhes e comportam-se como se tivessem. Tiram fotografias a pensar no lucro, escrevem a pensar no lucro, compõem a pensar no lucro. E isto surpreende-me. As pessoas agora são exploradas duas vezes. Primeiro, pelo parco valor que é dado ao seu trabalho, segundo, por si próprias, já que continuam a comportar-se como se estivessem a trabalhar, mesmo na hora da diversão.