No capitalismo do século XX, produziam-se sobretudo objectos físicos. Para optimizar a produção, o corpo do trabalhador deveria adaptar-se à máquina. Para se produzir mais em menos tempo, e pelo menor custo possível, o trabalhador deveria executar a mesma tarefa, sucessivamente, até ao ponto de, tal como uma máquina, fazê-lo de forma automatizada.
No capitalismo do século XXI, produzem-se sobretudo objectos não-físicos, como informações e programas. O órgão central da nova produção é o cérebro, que deve ser rentabilizado para a obtenção do lucro. Como não se obtém “criatividade” automatizando o cérebro, a optimização das funções cerebrais é feita através de medicamentos ou recorrendo-se a técnicas de lavagem cerebral, como o coaching, por exemplo. As técnicas de evangelização, com vista à submissão a uma ideia, são comuns às de várias religiões.
E;
Se dantes, como Chaplin, nos Tempos Modernos, ocupávamos o corpo, e não a mente, para produzir um determinado objecto, hoje, ocupamos o cérebro, e não o corpo, na linha de produção.
Por isso é que esta nova onda dos spinnings, dos runnings, e de outras formas de fitness e sexness, não são apenas uma tendência estética. O corpo desocupado é o novo recurso a ser explorado economicamente.
Liberdade e tecnologia.
Século XX.
O poder é normativo. Obriga-nos a cumprir regras. O objectivo é disciplinar o sujeito, torná-lo dócil e obediente. A imposição é visível porque implica coacções. “Se não cumprires, bato-te.”, “Se não cumprires, vais preso.”, por exemplo. Ainda que tenha consequências psicológicas, o poder disciplinar obtém um domínio mais físico do que psicológico. Como o sujeito consegue identificar o impositor, o poder tem um acesso limitado à psique.
Século XXI.
O poder é psicológico. Através dos dados que oferecemos ao Estado e às empresas, através do Google e do Facebook, por exemplo, o poder consegue construir não só o mapa psicológico de um determinado indivíduo, como também criar um mapa psicológico da “mente colectiva”. Utilizando os nossos dados, quem detém o poder descobre os nossos anseios e desejos ocultos e apodera-se desse conhecimento para controlar e vender. Agora, já não é necessário obrigar-nos a cumprir regras, basta seduzir-nos, penetrando nas camadas mais profundas da psique. Para nos dominar, continuam a utilizar técnicas disciplinares, mas sobretudo técnicas de manipulação. Seduzem-nos para nos tornar dependentes. A sedução é feita através da oferta de recompensas instantâneas. O “gosto”, do Facebook, é um exemplo disso. Satisfaz-nos ao ponto de, para o obtermos, oferecermos cada vez mais informação sobre nós. Quanto mais me exponho, mais gostos tenho. Não há “não gosto”. A satisfação é momentânea. E a recompensa nunca é negativa.
O poder é normativo. Obriga-nos a cumprir regras. O objectivo é disciplinar o sujeito, torná-lo dócil e obediente. A imposição é visível porque implica coacções. “Se não cumprires, bato-te.”, “Se não cumprires, vais preso.”, por exemplo. Ainda que tenha consequências psicológicas, o poder disciplinar obtém um domínio mais físico do que psicológico. Como o sujeito consegue identificar o impositor, o poder tem um acesso limitado à psique.
Século XXI.
O poder é psicológico. Através dos dados que oferecemos ao Estado e às empresas, através do Google e do Facebook, por exemplo, o poder consegue construir não só o mapa psicológico de um determinado indivíduo, como também criar um mapa psicológico da “mente colectiva”. Utilizando os nossos dados, quem detém o poder descobre os nossos anseios e desejos ocultos e apodera-se desse conhecimento para controlar e vender. Agora, já não é necessário obrigar-nos a cumprir regras, basta seduzir-nos, penetrando nas camadas mais profundas da psique. Para nos dominar, continuam a utilizar técnicas disciplinares, mas sobretudo técnicas de manipulação. Seduzem-nos para nos tornar dependentes. A sedução é feita através da oferta de recompensas instantâneas. O “gosto”, do Facebook, é um exemplo disso. Satisfaz-nos ao ponto de, para o obtermos, oferecermos cada vez mais informação sobre nós. Quanto mais me exponho, mais gostos tenho. Não há “não gosto”. A satisfação é momentânea. E a recompensa nunca é negativa.
Sísifo.
The Clash, The Magnificent Seven.
So get back to work an' sweat some more
The sun will sink an' we'll get out the door
Sísifo II.
Problema diário: conseguir tempo para ler e escrever.
Acordar às 6h. Ler e escrever das 6h às 7h. Tomar o pequeno-almoço e cozinhar das 7h às 8h. Arranjar-me das 8h às 9h. Sair de casa, para trabalhar.
Sair do trabalho às 18h. Das 18h às 20h, fazer o que me apetece, que é o mesmo que dizer ir para a esplanada ou para a cafetaria. Podia cozinhar agora, mas não gosto de jantar sozinha. Faço-o quando convido alguém. A esta hora, com o cansaço, também já não consigo ler. Fico a conversar, a olhar para o mar ou para a lareira. Ir para casa às 20h. Chegar a casa às 21h. Arranjar-me, folhear, partilhar, e dormir.
O que acontece na maioria das vezes: acordo às 7h e não leio.
O que é que mais gosto de fazer: ler e escrever.
O que é que eu faço: trabalhar e dormir.
A pedra cai todos os dias. E eu carrego-a até ao cimo da montanha. No dia seguinte, a pedra caiu outra vez.
Afinal, Camus, só mesmo na imaginação conseguimos ver Sísifo feliz.
E depois dizem que tenho que ser criativa, tolerante e empreendedora. Eu empreendo imenso. E por pouco dinheiro.
Acordar às 6h. Ler e escrever das 6h às 7h. Tomar o pequeno-almoço e cozinhar das 7h às 8h. Arranjar-me das 8h às 9h. Sair de casa, para trabalhar.
Sair do trabalho às 18h. Das 18h às 20h, fazer o que me apetece, que é o mesmo que dizer ir para a esplanada ou para a cafetaria. Podia cozinhar agora, mas não gosto de jantar sozinha. Faço-o quando convido alguém. A esta hora, com o cansaço, também já não consigo ler. Fico a conversar, a olhar para o mar ou para a lareira. Ir para casa às 20h. Chegar a casa às 21h. Arranjar-me, folhear, partilhar, e dormir.
O que acontece na maioria das vezes: acordo às 7h e não leio.
O que é que mais gosto de fazer: ler e escrever.
O que é que eu faço: trabalhar e dormir.
A pedra cai todos os dias. E eu carrego-a até ao cimo da montanha. No dia seguinte, a pedra caiu outra vez.
Afinal, Camus, só mesmo na imaginação conseguimos ver Sísifo feliz.
E depois dizem que tenho que ser criativa, tolerante e empreendedora. Eu empreendo imenso. E por pouco dinheiro.
Sísifo I.
Toda a alegria silenciosa de Sísifo está aí. O seu destino pertence-lhe. O seu rochedo é a sua questão. Da mesma forma o homem absurdo, quando contempla o seu tormento, faz calar todos os ídolos (…). De resto, sabe que é o dono dos seus dias.
Esse universo enfim sem dono não lhe parece estéril nem fútil. Cada grão dessa pedra, cada estilhaço mineral dessa montanha cheia de noite, forma por si só um mundo. A própria luta para atingir os píncaros basta para encher um coração de homem. É preciso imaginar Sísifo feliz.
Camus, em Mito de Sísifo.
Comunicação e liberdade.
Antigamente, o poder censurava a informação. O transgressor era aquele que dizia o que pensava, ainda que isso implicasse consequências negativas para ele. Liberdade era sinónimo de expressão, liberdade de expressão.
Na era da comunicação e da vigilância totais, o poder obriga-nos à expressão. Hoje, o transgressor é aquele que se recusa a comunicar, o desligado. Liberdade é sinónimo de desconexão, liberdade de desaparecimento.
Na era da comunicação e da vigilância totais, o poder obriga-nos à expressão. Hoje, o transgressor é aquele que se recusa a comunicar, o desligado. Liberdade é sinónimo de desconexão, liberdade de desaparecimento.
Cabelos de praia.
Ele há cremes para o cabelo que criam um “efeito de praia”. Ele há cremes de corpo autobronzeadores ou com cor que dão um “bronzeado de praia”. Ele há bases e pós de rosto dourados para ficares com “ar de praia”. Ele há cabeleireiros que fazem “mechas e ondulados com efeito pós-praia”.
Fazes assim: trabalhas dia e noite para me comprares esses produtos.
Tudo, menos ir para a praia.
Tudo, menos ir para a praia.
Capital e liberdade.
A exploração da culpa ou Agora, Deus também é o capital.
Dantes, devíamos sempre a Deus.
Agora, devemos sempre ao capital.
Endividados, não podemos agir.
A dívida elimina a liberdade.
O capital é a nova transcendência.
Somos outra vez devedores em falta.
Dantes, devíamos sempre a Deus.
Agora, devemos sempre ao capital.
Endividados, não podemos agir.
A dívida elimina a liberdade.
O capital é a nova transcendência.
Somos outra vez devedores em falta.
Cultura e liberdade I.
O marketing cultural diz que é benéfico para a sociedade porque:
1. A cultura, ao ser patrocinada tanto por entidades privadas como por empresas públicas, vê o seu financiamento ser aumentado.
2. Com mais dinheiro, há mais projectos culturais.
3. Havendo mais projectos culturais, mais pessoas podem consumir cultura.
4. Dá-se a democratização cultural.
É uma história interessante, mas:
Antigamente, o Estado e as empresas não tinham acesso aos nossos tempos livres. O controlo era exercido enquanto trabalhávamos, nos hospitais, nas prisões, entre outros locais fechados.
Hoje, através da “cultura” e da tecnologia, as empresas também dominam os nossos espaços privados.
Se dantes, conseguiam vender-nos pouca coisa no nosso tempo livre, agora, vendem-nos publicidade virtual 24 horas sobre 24 horas, no Facebook, por exemplo, e produtos culturais (filmes, livros, peças de teatro, exposições, etc.) para nos entreterem no tempo que sobra.
Com isto, ganham duas coisas:
1. O lucro da venda desses produtos e serviços.
2. O lucro das indústrias associadas (roupas, cosmética, eventos, etc.).
E garantem que não andamos a ler, a ver ou a tocar coisas que não lhes dão lucro e até podem ser o adubo para desobediências.
Ou seja, conseguem controlar-nos e lucrar ininterruptamente. E, para o fazerem, utilizam técnicas de sedução, que são bem mais eficazes do que as coacções.
1. A cultura, ao ser patrocinada tanto por entidades privadas como por empresas públicas, vê o seu financiamento ser aumentado.
2. Com mais dinheiro, há mais projectos culturais.
3. Havendo mais projectos culturais, mais pessoas podem consumir cultura.
4. Dá-se a democratização cultural.
É uma história interessante, mas:
Antigamente, o Estado e as empresas não tinham acesso aos nossos tempos livres. O controlo era exercido enquanto trabalhávamos, nos hospitais, nas prisões, entre outros locais fechados.
Hoje, através da “cultura” e da tecnologia, as empresas também dominam os nossos espaços privados.
Se dantes, conseguiam vender-nos pouca coisa no nosso tempo livre, agora, vendem-nos publicidade virtual 24 horas sobre 24 horas, no Facebook, por exemplo, e produtos culturais (filmes, livros, peças de teatro, exposições, etc.) para nos entreterem no tempo que sobra.
Com isto, ganham duas coisas:
1. O lucro da venda desses produtos e serviços.
2. O lucro das indústrias associadas (roupas, cosmética, eventos, etc.).
E garantem que não andamos a ler, a ver ou a tocar coisas que não lhes dão lucro e até podem ser o adubo para desobediências.
Ou seja, conseguem controlar-nos e lucrar ininterruptamente. E, para o fazerem, utilizam técnicas de sedução, que são bem mais eficazes do que as coacções.
Crime e feminismo.
"O feminismo já não faz sentido nos dias de hoje. As leis são iguais tanto para os homens como para as mulheres."
O crime já não faz sentido nos dias de hoje. As leis não permitem o crime.
Lei fundamental portuguesa:
Todos os cidadãos gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição.
Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.
A integridade moral e física das pessoas é inviolável.
A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e familiar e à protecção legal contra quaisquer formas de discriminação.
Todos têm direito à liberdade e à segurança.
ah ah ah
O crime já não faz sentido nos dias de hoje. As leis não permitem o crime.
Lei fundamental portuguesa:
Todos os cidadãos gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição.
Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.
A integridade moral e física das pessoas é inviolável.
A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e familiar e à protecção legal contra quaisquer formas de discriminação.
Todos têm direito à liberdade e à segurança.
ah ah ah
Dinheiro é poder III.
Para finalizar esta carta, aqui te deixo uma máxima que li hoje, e que também ela foi colhida num jardim alheio: “uma verdadeira riqueza é a pobreza conforme a lei natural.” (Epicuro) Sabes quais os limites que a lei natural nos impõe? Não passar fome, nem sede, nem dor. Para evitar a fome e a sede não é necessário frequentar a casa dos grandes senhores, nem suportar o seu ar carrancudo, ou a sua ofensiva bondade (…).
Sermos donos de nós mesmos é um bem inestimável!
À custa de muito esforço poderemos ter uma grande propriedade: antigamente, contudo, éramos proprietários de tudo! Sem cultura, a própria terra era mais fértil, e bastava para as necessidades de gente que não a saqueava.
Esses homens protegiam-se do sol apenas na sombra densa das florestas, viviam sob humildes tectos de colmo como único abrigo contra as inclemências do inverno, mas podiam ver as suas noites passarem sem angústia. Nós, no meio da nossa púrpura, dormimos agitados, sujeitos ao violento aguilhão da ansiedade; eles, dormindo na terra dura, que sono tranquilo gozavam!
O filósofo que, vendo um garoto a beber água pelas mãos em concha, partiu no mesmo instante o copo que tirara da sacola, e a si próprio se repreendeu, dizendo; “Oh! Como sou estúpido em andar carregado de objectos inúteis!”
A sabedoria põe a riqueza à tua mão: ao mostrar que é supérflua, está como que a oferecer-ta.
Séneca, em Cartas a Lucílio, ano 65 d.c., Roma.
Sermos donos de nós mesmos é um bem inestimável!
À custa de muito esforço poderemos ter uma grande propriedade: antigamente, contudo, éramos proprietários de tudo! Sem cultura, a própria terra era mais fértil, e bastava para as necessidades de gente que não a saqueava.
Esses homens protegiam-se do sol apenas na sombra densa das florestas, viviam sob humildes tectos de colmo como único abrigo contra as inclemências do inverno, mas podiam ver as suas noites passarem sem angústia. Nós, no meio da nossa púrpura, dormimos agitados, sujeitos ao violento aguilhão da ansiedade; eles, dormindo na terra dura, que sono tranquilo gozavam!
O filósofo que, vendo um garoto a beber água pelas mãos em concha, partiu no mesmo instante o copo que tirara da sacola, e a si próprio se repreendeu, dizendo; “Oh! Como sou estúpido em andar carregado de objectos inúteis!”
A sabedoria põe a riqueza à tua mão: ao mostrar que é supérflua, está como que a oferecer-ta.
Séneca, em Cartas a Lucílio, ano 65 d.c., Roma.
Dinheiro é poder II.
(Jorge Palma, A gente vai continuar)
"Somos todos escravos do que precisamos.
Reduz as necessidades se queres passar bem."
Dinheiro é poder I.
Eu tenho 20€, tenho o poder de os gastar em 20 coisas. Quando as compro, deixo de ter a possibilidade de as comprar.
Somos mais poderosos quanto mais possibilidades temos.
Eu posso.
Tu podes.
Pobre não é aquele que tem pouco.
Pobre é aquele que quer mas não pode.
Para ser rico basta não querer.
Somos mais poderosos quanto mais possibilidades temos.
Eu posso.
Tu podes.
Pobre não é aquele que tem pouco.
Pobre é aquele que quer mas não pode.
Para ser rico basta não querer.
Poder é não precisar.
Amor: sexo e metafísica.
Toda a gente já sentiu aquela chicotada no cérebro. No momento em que olhamos para ele ou para ela, o queixo cai-nos, os olhos saltam-nos das órbitas, a realidade suspende-se. Começamos a ver tudo de forma diferente. Sideramos. Eis o amor, a experiência natural mais pungente, hipnótica e extasiante do ser humano.
Inflamados, começamos a imaginar o outro e apaixonamo-nos pelo que é perfeito nele. Não é preciso que ele seja perfeito em tudo, mas tem que encarnar alguma forma de perfeição. A nossa personagem tem que ser superior aos outros, ultrapassar o resto da humanidade em alguma coisa. Apaixonamo-nos pela nossa imaginação. Por isso é que no "Banquete", de Platão, Sócrates diz que o “erro surge por se considerar que o amor é aquilo que se ama e não aquilo que ama”. Não cometer o erro significará, então, dizermos que o amor tem mais a ver com a forma como amamos do que com a pessoa que amamos. Ou, como diria Barthes, “é o amor que o sujeito ama, não o objecto”. Mas, se não é a pessoa que amamos mas o nosso estado de enamoramento, porque razão desejo aquela pessoa e não outra? Amamos quem queríamos ser, quem nos é útil ou quem nos satisfaz.
É por este motivo que há quem considere que toda esta história é uma grande facécia, que o amor é uma invenção bizarra que tem por objectivo sentimentalizar o instinto sexual. Ou seja, tal como os outros animais, o que procuramos é sempre sexo. E esse instinto cega-nos até conseguirmos satisfazer-nos . Mas, mesmo que o amor não seja mais do que uma ilusão, os sentimentos que desperta são reais. E, se ninguém deixa de dormir, comer e até se suicida por deixar de ter sexo, a que se deve a imensidão do desgosto amoroso?
Quando termina um amor, não é a pessoa que se perde. É o sentido da nossa existência. Claro que podíamos encontrá-lo de várias formas. Na contemplação, passando os dias na natureza, a reflectir, a aprofundar o pensamento. Na acção, prosseguindo uma causa, como a igualdade, a justiça ou a luta contra o racismo. Ou na diversão, na boémia, na transgressão. Mas não há nenhum que empilhe todos os sentidos da vida como a paixão. Ela é uma ideia, uma causa, que nos impele a contemplar, agir, cooperar, arder e andar à deriva. Absorve todos os sentidos, a vida toda. Deve ser por isso que o amor é o objectivo último de quase todas as aspirações humanas. E será também por isso que dá origem aos maiores sofrimentos. A violência da paixão é tal que serve de consolo para a maior dor da consciência humana: deixamos até de nos lembrar que um dia vamos morrer. Achamos que vamos ser felizes para sempre. Ou, como diria Cesare Pavese, nos seus diários, "Ninguém se mata pelo amor de uma mulher. Matamo-nos porque um amor, não importa qual, nos revela a nós mesmos na nossa nudez, na nossa miséria, no nosso estado inerme, no nosso nada”.
E o que fazemos, então, quando a paixão acaba, seja porque deixamos de a sentir, seja porque o outro se foi embora?Como evitamos o sofrimento do amor?
Há quem preconize uma entrega desenfreada às relações sexuais para evitar os perigos de uma paixão única, e há quem apregoe a domesticação das pulsões carnais para nos defendermos das atrocidades do amor. Mas, seja para não corrermos o risco de substituirmos uma dependência emocional por uma dependência sexual, seja para não deixarmos de viver a experiência mais singular da vida humana, alcancemos a autonomia individual, a auto-suficiência emocional. Embriaguemo-nos também com arte, com ideias ou com festas. Viver ao contrário da natureza é remar contra a maré, mas procuremos a felicidade não só na busca do prazer também na lucidez, na independência relativamente a falsas necessidades e a preconceitos que criam frustrações. Em união ou em celibato, não expectemos a satisfação de todas as nossas necessidades no outro. Há pessoas que vivem acompanhadas e sentem uma profunda solidão e há celibatários que nunca se sentem sozinhos. Desprezemos os discursos falaciosos das servidões no amor. É que no início, durante e no fim, vestidos ou despidos, o inferno não é o outro, somos sempre nós.
Inflamados, começamos a imaginar o outro e apaixonamo-nos pelo que é perfeito nele. Não é preciso que ele seja perfeito em tudo, mas tem que encarnar alguma forma de perfeição. A nossa personagem tem que ser superior aos outros, ultrapassar o resto da humanidade em alguma coisa. Apaixonamo-nos pela nossa imaginação. Por isso é que no "Banquete", de Platão, Sócrates diz que o “erro surge por se considerar que o amor é aquilo que se ama e não aquilo que ama”. Não cometer o erro significará, então, dizermos que o amor tem mais a ver com a forma como amamos do que com a pessoa que amamos. Ou, como diria Barthes, “é o amor que o sujeito ama, não o objecto”. Mas, se não é a pessoa que amamos mas o nosso estado de enamoramento, porque razão desejo aquela pessoa e não outra? Amamos quem queríamos ser, quem nos é útil ou quem nos satisfaz.
É por este motivo que há quem considere que toda esta história é uma grande facécia, que o amor é uma invenção bizarra que tem por objectivo sentimentalizar o instinto sexual. Ou seja, tal como os outros animais, o que procuramos é sempre sexo. E esse instinto cega-nos até conseguirmos satisfazer-nos . Mas, mesmo que o amor não seja mais do que uma ilusão, os sentimentos que desperta são reais. E, se ninguém deixa de dormir, comer e até se suicida por deixar de ter sexo, a que se deve a imensidão do desgosto amoroso?
Quando termina um amor, não é a pessoa que se perde. É o sentido da nossa existência. Claro que podíamos encontrá-lo de várias formas. Na contemplação, passando os dias na natureza, a reflectir, a aprofundar o pensamento. Na acção, prosseguindo uma causa, como a igualdade, a justiça ou a luta contra o racismo. Ou na diversão, na boémia, na transgressão. Mas não há nenhum que empilhe todos os sentidos da vida como a paixão. Ela é uma ideia, uma causa, que nos impele a contemplar, agir, cooperar, arder e andar à deriva. Absorve todos os sentidos, a vida toda. Deve ser por isso que o amor é o objectivo último de quase todas as aspirações humanas. E será também por isso que dá origem aos maiores sofrimentos. A violência da paixão é tal que serve de consolo para a maior dor da consciência humana: deixamos até de nos lembrar que um dia vamos morrer. Achamos que vamos ser felizes para sempre. Ou, como diria Cesare Pavese, nos seus diários, "Ninguém se mata pelo amor de uma mulher. Matamo-nos porque um amor, não importa qual, nos revela a nós mesmos na nossa nudez, na nossa miséria, no nosso estado inerme, no nosso nada”.
E o que fazemos, então, quando a paixão acaba, seja porque deixamos de a sentir, seja porque o outro se foi embora?Como evitamos o sofrimento do amor?
Há quem preconize uma entrega desenfreada às relações sexuais para evitar os perigos de uma paixão única, e há quem apregoe a domesticação das pulsões carnais para nos defendermos das atrocidades do amor. Mas, seja para não corrermos o risco de substituirmos uma dependência emocional por uma dependência sexual, seja para não deixarmos de viver a experiência mais singular da vida humana, alcancemos a autonomia individual, a auto-suficiência emocional. Embriaguemo-nos também com arte, com ideias ou com festas. Viver ao contrário da natureza é remar contra a maré, mas procuremos a felicidade não só na busca do prazer também na lucidez, na independência relativamente a falsas necessidades e a preconceitos que criam frustrações. Em união ou em celibato, não expectemos a satisfação de todas as nossas necessidades no outro. Há pessoas que vivem acompanhadas e sentem uma profunda solidão e há celibatários que nunca se sentem sozinhos. Desprezemos os discursos falaciosos das servidões no amor. É que no início, durante e no fim, vestidos ou despidos, o inferno não é o outro, somos sempre nós.
Da banalidade.
Arte contemporânea.
Até uma criança de 3 anos fazia isto.
Posso pintar um quadro abstracto inconscientemente.
Posso pintar um quadro abstracto como recusa à normatividade na arte.
Duchamp virou o urinol ao contrário.
Desconstruir é construir de uma forma diferente.
Não interessa se eu consigo fazer isto. O que interessa é que eu nunca pensei nisto.
A arte não é a técnica, é a ideia.
Até uma criança de 3 anos fazia isto.
Uma criança de 3 anos nunca pensaria nisto.
Posso pintar um quadro abstracto inconscientemente.
Posso pintar um quadro abstracto como recusa à normatividade na arte.
Duchamp virou o urinol ao contrário.
Desconstruir é construir de uma forma diferente.
Não interessa se eu consigo fazer isto. O que interessa é que eu nunca pensei nisto.
A arte não é a técnica, é a ideia.
Metafísica do amor.
Para além da persecução do instinto sexual, a paixão é:
Suspensão da realidade e imaginação.
O sujeito apaixonado suspende-se da realidade.
Suspensão da realidade e imaginação.
O sujeito apaixonado suspende-se da realidade.
“Mundo siderado ou A-realidade: Sentimento de ausência, fuga da realidade experimentada pelo sujeito apaixonado face ao mundo.” Barthes.
Tudo o que rodeia o sujeito apaixonado altera o seu valor.
“O apaixonado separa-se então do mundo, irrealiza-o”.
“Perco também o real, mas nenhuma substituição imaginária vem compensar essa perda: (…) já não estou no Imaginário. Tudo está congelado, petrificado, imutável, isto é, insubstituível: o imaginário.” Barthes.
“Tudo não é mais do que ilusão no amor.” Rousseau.
Sentido de vida e expectativa de felicidade futura.
O ser apaixonado sente que encontrou o seu sentido de vida e que vai ser feliz para sempre.
“Investindo uma qualquer mulher de mil felicidades futuras, o homem vulgar pensa ter ao seu alcance, e sem demasiado esforço, o sentido da sua existência.” Lucrécio.
“Que coisa incrível isto de ver alguém em princípio sensato relacionar “a posse de uma determinada mulher à representação de uma felicidade infinita.” Schopenhauer.
“Diotima: - Pois o mesmo se dá com o amor: desejo do bem e da felicidade, em geral, eis no que para todos consiste o grande e astucioso Eros. Mas há muitos modos de dar satisfação ao amor e, entre eles, o de procurar a riqueza, o desporto, a filosofia, aos quais, todavia, não se aplicam correntemente os nomes de amante e amado; apenas a uma determinada espécie de amor e aos seus sequazes é que se dá o nome que de direito pertence ao gênero todo: amor, amar amante...” Platão.
Sentimento de imortalidade e consolo da alma.
A consciência da mortalidade é a maior dor da alma humana. O amor faz-nos sentir eternos. Apaixonados, nunca mais nos lembramos que vamos morrer.
“ (...) mas creio que é para alcançar um louvor imortal e uma fama semelhante a dos que acabei de citar [Alceste, Aquiles e Cordo], que os homens se sujeitam a todos os sacrifícios, e tanto mais voluntariamente quanto melhores forem, pois assim sendo tanto mais amam a imortalidade (208D)!” Diotima, no Banquete, Platão.
O amor é um “Sentimento consolador que parece oferecer aos homens uma compensação pelas dores muito concretas da condição humana.” Schopenhauer.
Tudo o que rodeia o sujeito apaixonado altera o seu valor.
“O apaixonado separa-se então do mundo, irrealiza-o”.
“Perco também o real, mas nenhuma substituição imaginária vem compensar essa perda: (…) já não estou no Imaginário. Tudo está congelado, petrificado, imutável, isto é, insubstituível: o imaginário.” Barthes.
“Tudo não é mais do que ilusão no amor.” Rousseau.
Sentido de vida e expectativa de felicidade futura.
O ser apaixonado sente que encontrou o seu sentido de vida e que vai ser feliz para sempre.
“Investindo uma qualquer mulher de mil felicidades futuras, o homem vulgar pensa ter ao seu alcance, e sem demasiado esforço, o sentido da sua existência.” Lucrécio.
“Que coisa incrível isto de ver alguém em princípio sensato relacionar “a posse de uma determinada mulher à representação de uma felicidade infinita.” Schopenhauer.
“Diotima: - Pois o mesmo se dá com o amor: desejo do bem e da felicidade, em geral, eis no que para todos consiste o grande e astucioso Eros. Mas há muitos modos de dar satisfação ao amor e, entre eles, o de procurar a riqueza, o desporto, a filosofia, aos quais, todavia, não se aplicam correntemente os nomes de amante e amado; apenas a uma determinada espécie de amor e aos seus sequazes é que se dá o nome que de direito pertence ao gênero todo: amor, amar amante...” Platão.
Sentimento de imortalidade e consolo da alma.
A consciência da mortalidade é a maior dor da alma humana. O amor faz-nos sentir eternos. Apaixonados, nunca mais nos lembramos que vamos morrer.
“ (...) mas creio que é para alcançar um louvor imortal e uma fama semelhante a dos que acabei de citar [Alceste, Aquiles e Cordo], que os homens se sujeitam a todos os sacrifícios, e tanto mais voluntariamente quanto melhores forem, pois assim sendo tanto mais amam a imortalidade (208D)!” Diotima, no Banquete, Platão.
O amor é um “Sentimento consolador que parece oferecer aos homens uma compensação pelas dores muito concretas da condição humana.” Schopenhauer.
Eu é que agradeço.
Os E.U.A querem levar a democracia ao médio oriente.
As Nações Unidas querem acabar com a fome em África.
A igreja quer trazer paz ao mundo.
O governo português quer diminuir o desemprego.
Os maridos querem melhorar a vida das esposas.
Os patrões querem melhorar as condições dos trabalhadores.
Os trabalhadores querem aumentar a produção da empresa.
Os jornais querem informar os leitores.
Os portugueses querem a liberdade dos gregos.
O sistema prisional quer acabar com as injustiças.
O apaixonado só quer o bem da sua amada.
Todos têm uma ideia muito nobre para embelezar a causa de si próprios.
“Se deixarmos por algum tempo valer o princípio do desinteresse, teremos de perguntar: não queres interessar-te por nada, entusiasmar-te – por exemplo, pela liberdade, a humanidade, etc.? Claro que sim, mas isso não é interesse egoísta, não significa ser-se interesseiro, mas um interesse humano, isto é, teórico, um interesse não por um indivíduo ou pelos indivíduos (“todos”), mas pela ideia, pelo homem! E não percebes que também te entusiasmas apenas com a tua ideia, a tua ideia de liberdade?” Max Stirner, em O único e a sua propriedade.
As Nações Unidas querem acabar com a fome em África.
A igreja quer trazer paz ao mundo.
O governo português quer diminuir o desemprego.
Os maridos querem melhorar a vida das esposas.
Os patrões querem melhorar as condições dos trabalhadores.
Os trabalhadores querem aumentar a produção da empresa.
Os jornais querem informar os leitores.
Os portugueses querem a liberdade dos gregos.
O sistema prisional quer acabar com as injustiças.
O apaixonado só quer o bem da sua amada.
Todos têm uma ideia muito nobre para embelezar a causa de si próprios.
“Se deixarmos por algum tempo valer o princípio do desinteresse, teremos de perguntar: não queres interessar-te por nada, entusiasmar-te – por exemplo, pela liberdade, a humanidade, etc.? Claro que sim, mas isso não é interesse egoísta, não significa ser-se interesseiro, mas um interesse humano, isto é, teórico, um interesse não por um indivíduo ou pelos indivíduos (“todos”), mas pela ideia, pelo homem! E não percebes que também te entusiasmas apenas com a tua ideia, a tua ideia de liberdade?” Max Stirner, em O único e a sua propriedade.
Sentidos de vida I.
Para encontrar um sentido de vida, que nos faça esquecer a nossa mortalidade e nos abstraia das misérias do quotidiano, podemos escolher estas vias.
A via da contemplação, que é o mesmo que dizer estudar e estudar-se. Trabalhar o espírito. Reflectir, tentar descobrir a verdade e aprofundar o pensamento abstracto. Pensar no ser enquanto ser.
“O otium permite-nos fazer um exame de consciência, estudar, entregar-nos a diversos exercícios espirituais, praticar a virtude, e também aproveitar o tempo disponível. (…) um período de reconstrução de si mesmo e da sua conexão com o mundo.” Séneca, em Da Brevidade da vida.
A via da acção, que se traduz no envolvimento activo numa causa, que pode ser a liberdade, a humanidade, a igualdade, a justiça, a luta contra a fome, contra o racismo, entre outras.
“Toda a espécie de envolvimento activo nos assuntos deste mundo.” Hannah Arendt, em A Condição humana.
E a via da distração e da transgressão: a da ardência, da embriaguez, da desordem, da diversão, da boémia, do excesso. A de andar a passear, à deriva.
"Para o perfeito Flâneur, para o observador apaixonado, é um imenso júbilo fixar residência no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugidio e no infinito. Estar fora de casa, e contudo sentir-se em casa onde quer que se encontre; ver o mundo, estar no centro do mundo e permanecer oculto no mundo, eis alguns dos pequenos prazeres desses espíritos independentes, apaixonados, imparciais, que a linguagem não pode definir senão toscamente." Baudelaire, em O pintor da vida moderna.
A paixão empilha-os todos. É uma ideia, uma causa, que nos impele a contemplar, agir, cooperar, arder e andar à deriva. Absorve todos os sentidos, a vida toda.
Ou, como diria Musil,
“A paixão é o estado no qual todos os sentimentos e ideias se encontram no mesmo espírito.”, em O homem sem qualidades.
Deve ser por isso que o amor é “o objectivo último de quase todas as aspirações humanas”, nas palavras de Schopenhauer.
E será também por isso que dá origem aos maiores sofrimentos.
Quando termina um amor, não é a pessoa que se perde. É o sentido da nossa existência.
A via da contemplação, que é o mesmo que dizer estudar e estudar-se. Trabalhar o espírito. Reflectir, tentar descobrir a verdade e aprofundar o pensamento abstracto. Pensar no ser enquanto ser.
“O otium permite-nos fazer um exame de consciência, estudar, entregar-nos a diversos exercícios espirituais, praticar a virtude, e também aproveitar o tempo disponível. (…) um período de reconstrução de si mesmo e da sua conexão com o mundo.” Séneca, em Da Brevidade da vida.
A via da acção, que se traduz no envolvimento activo numa causa, que pode ser a liberdade, a humanidade, a igualdade, a justiça, a luta contra a fome, contra o racismo, entre outras.
“Toda a espécie de envolvimento activo nos assuntos deste mundo.” Hannah Arendt, em A Condição humana.
E a via da distração e da transgressão: a da ardência, da embriaguez, da desordem, da diversão, da boémia, do excesso. A de andar a passear, à deriva.
"Para o perfeito Flâneur, para o observador apaixonado, é um imenso júbilo fixar residência no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugidio e no infinito. Estar fora de casa, e contudo sentir-se em casa onde quer que se encontre; ver o mundo, estar no centro do mundo e permanecer oculto no mundo, eis alguns dos pequenos prazeres desses espíritos independentes, apaixonados, imparciais, que a linguagem não pode definir senão toscamente." Baudelaire, em O pintor da vida moderna.
A paixão empilha-os todos. É uma ideia, uma causa, que nos impele a contemplar, agir, cooperar, arder e andar à deriva. Absorve todos os sentidos, a vida toda.
Ou, como diria Musil,
“A paixão é o estado no qual todos os sentimentos e ideias se encontram no mesmo espírito.”, em O homem sem qualidades.
Deve ser por isso que o amor é “o objectivo último de quase todas as aspirações humanas”, nas palavras de Schopenhauer.
E será também por isso que dá origem aos maiores sofrimentos.
Quando termina um amor, não é a pessoa que se perde. É o sentido da nossa existência.
Comida pós-moderna III.
“O mais importante para a saúde de uma pessoa não é necessariamente se ela consome ou não os nutrientes bons ou maus, nem as calorias que consome. Mais do que qualquer outra coisa, o que dita uma dieta saudável é o facto de aquilo que se come ter sido cozinhado em casa e não numa empresa. As empresas cozinham de uma forma muito diferente das pessoas. Usam vastas quantidades de sal, gordura e açúcar, muito mais do que nós usaríamos alguma vez em casa. E a razão pela qual elas o fazem reside no facto destes ingredientes serem incrivelmente atractivos e baratos e, quando colocados numa batata, por exemplo, ou em bolos, e várias outras formas de junk food, são incrivelmente viciantes.”
Comida pós-moderna.
Comer comida é um dos maiores desafios dos seres humanos do século XXI. Os peixes comem plantas, ovos de peixes, peixes mais pequenos, pequenos crustáceos e restos de alimentos que encontram na água. Os répteis alimentam-se de flores, ovos, algas e outros animais. Os mamíferos selvagens comem ervas, vegetais, cereais, frutos e sementes. Nós precisamos de tirar um mestrado em ciências da nutrição para sabermos o que comer.
Todos os dias, chegam milhares de novos produtos aos supermercados que se esforçam por convencer-nos que são comida, quando realmente são um amontoado de ingredientes altamente processados que a nossa bisavó não faria a mínima ideia do que se trataria. Sulfato de amoníaco e glutamato monossódico são coisas que se comem? Parece que sim. Toda a gente já os trouxe do supermercado, no pão embalado, nos iogurtes gregos ou nas bolachas para bebés. São aditivos químicos usados para intensificar o sabor dos alimentos, conservá-los e dar-lhes cor e aromas apelativos, ou seja, todas as características que um alimento fresco e não tratado tem, naturalmente.
Outra característica fora do padrão clássico alimentar é a obsessão pelas propriedades dos alimentos que supostamente vão-resolver-todos-os-problemas-da-sua-vida. São os fitoesteróis do creme vegetal que vão acabar com o seu colesterol, é a vitamina B6 dos mini-iogurtes que vão protegê-lo contra todas as gripes e constipações e os sumos recheados de antioxidantes que vão mantê-lo jovem para sempre.
Então, aqui vai a pergunta que se torna praticamente inevitável diante das longas prateleiras dos supermercados apinhadas de alimentos processados: Porquê?
Bem, vender legumes frescos que apodrecem numa semana, arroz que ganha bicho e pão tosco que ganha bolor rende muito menos dinheiro. Já pensou como é um quilo de batatas pré-fritas congeladas é mais barato do que um vulgar quilo de batatas que nem descascadas estão?
É claro que os alimentos altamente processados, cheios de aditivos químicos e desprovidos da maior parte dos seus nutrientes naturais, têm uma data de validade radicalmente mais longa do que os alimentos frescos. Processo e embalo hoje, vendo durante um ano.
O problema é que os alimentos processados aumentam a probabilidade de virmos a sofrer de diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares e cancro, coisa que o material promocional destes alimentos nunca refere, tal como as relações públicas da indústria da saúde não falam dos estudos que afirmam que a maior parte destas doenças pode ser revertida através da alimentação. Saber que para ser saudável basta comer vegetais frescos, alimentos inteiros e ler os ingredientes das embalagens para evitar aqueles que não conseguimos imaginar no seu estado natural, não é nada fascinante. Nem vende medicamentos.
Para todos os efeitos, toda a gente sabe o que deve comer. No entanto, na alimentação pós-moderna, a confusão paira e, para tornar a nossa vida muito mais fácil e deslumbrante, temos os especialistas em nutrição que descobrem coisas sensacionais e explicam o que devemos comer. Temos a indústria alimentar que refaz e publicita os seus produtos de acordo com as novas descobertas. E a comunicação social que tem sempre grandes novidades sobre nutrição e saúde para escrever. Todos ganham, menos quem tem de comer.
Todos os dias, chegam milhares de novos produtos aos supermercados que se esforçam por convencer-nos que são comida, quando realmente são um amontoado de ingredientes altamente processados que a nossa bisavó não faria a mínima ideia do que se trataria. Sulfato de amoníaco e glutamato monossódico são coisas que se comem? Parece que sim. Toda a gente já os trouxe do supermercado, no pão embalado, nos iogurtes gregos ou nas bolachas para bebés. São aditivos químicos usados para intensificar o sabor dos alimentos, conservá-los e dar-lhes cor e aromas apelativos, ou seja, todas as características que um alimento fresco e não tratado tem, naturalmente.
Outra característica fora do padrão clássico alimentar é a obsessão pelas propriedades dos alimentos que supostamente vão-resolver-todos-os-problemas-da-sua-vida. São os fitoesteróis do creme vegetal que vão acabar com o seu colesterol, é a vitamina B6 dos mini-iogurtes que vão protegê-lo contra todas as gripes e constipações e os sumos recheados de antioxidantes que vão mantê-lo jovem para sempre.
Então, aqui vai a pergunta que se torna praticamente inevitável diante das longas prateleiras dos supermercados apinhadas de alimentos processados: Porquê?
Bem, vender legumes frescos que apodrecem numa semana, arroz que ganha bicho e pão tosco que ganha bolor rende muito menos dinheiro. Já pensou como é um quilo de batatas pré-fritas congeladas é mais barato do que um vulgar quilo de batatas que nem descascadas estão?
É claro que os alimentos altamente processados, cheios de aditivos químicos e desprovidos da maior parte dos seus nutrientes naturais, têm uma data de validade radicalmente mais longa do que os alimentos frescos. Processo e embalo hoje, vendo durante um ano.
O problema é que os alimentos processados aumentam a probabilidade de virmos a sofrer de diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares e cancro, coisa que o material promocional destes alimentos nunca refere, tal como as relações públicas da indústria da saúde não falam dos estudos que afirmam que a maior parte destas doenças pode ser revertida através da alimentação. Saber que para ser saudável basta comer vegetais frescos, alimentos inteiros e ler os ingredientes das embalagens para evitar aqueles que não conseguimos imaginar no seu estado natural, não é nada fascinante. Nem vende medicamentos.
Para todos os efeitos, toda a gente sabe o que deve comer. No entanto, na alimentação pós-moderna, a confusão paira e, para tornar a nossa vida muito mais fácil e deslumbrante, temos os especialistas em nutrição que descobrem coisas sensacionais e explicam o que devemos comer. Temos a indústria alimentar que refaz e publicita os seus produtos de acordo com as novas descobertas. E a comunicação social que tem sempre grandes novidades sobre nutrição e saúde para escrever. Todos ganham, menos quem tem de comer.
O casamento, parte I.
O isolamento é um feito social. Estou afastado dos outros, encontro-me sozinho.
A solidão é um estado psicológico. Isolado ou acompanhado, sinto-me sozinho.
Há pessoas que vivem acompanhadas e sentem uma profunda solidão.
Há celibatários que nunca se sentem sozinhos.
A maioria das pessoas casadas circunscreve as suas actividades ao espaço doméstico e expectam a satisfação de todas as suas necessidades no companheiro.
A solidão é um estado psicológico. Isolado ou acompanhado, sinto-me sozinho.
Há pessoas que vivem acompanhadas e sentem uma profunda solidão.
Há celibatários que nunca se sentem sozinhos.
A maioria das pessoas casadas circunscreve as suas actividades ao espaço doméstico e expectam a satisfação de todas as suas necessidades no companheiro.
A maioria dos celibatários realizam grande parte das suas actividades ou em comunidade ou para fins artísticos. Autonomizam-se.
Da natureza.
Depois de comer, ficamos saciados, depois de repousar, descansados, depois de dormir, sem sono, depois de beber, sem sede.
Se o sexo é uma necessidade natural, por que é que não só não ficamos satisfeitos como quanto mais fazemos mais queremos fazer?
O ser natural não vicia. O vício nasce da urbanização.
Se o sexo é uma necessidade natural, por que é que não só não ficamos satisfeitos como quanto mais fazemos mais queremos fazer?
O ser natural não vicia. O vício nasce da urbanização.
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